segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sala de espera

Entrei na sala de espera e contei mentalmente quantas pessoas havia ali. Perdi a conta com o cheirinho de café fresco, mas calculei entre oito, talvez dez pessoas. Enquanto saboreava o cafezinho doce e quente, pensei como podia haver tanta gente ali se era apenas 8h23, quero dizer, se meu horário era às 8h30, imagino que devem ter outros médicos atendendo além do meu, ou quem sabe metade das pessoas esteja apenas de acompanhante ou então, concluí por fim, eu tomaria muitos cafezinhos durante aquela manhã.

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domingo, 24 de outubro de 2010

O Corpo

Ontem, vi um corpo. Ele estava na rua, braço jogado para o lado, como nesses filmes policiais que a gente vê. Mas esse era de verdade, não era ator, nem sangue de mentira. Um lençol, já ensanguentado, cobria seu rosto e parte do que dava. Luzes vermelhas iluminavam os rostos curiosos que se aglomeravam para ver o acidente. Vi as sirenes ao longe e, imaginando ser uma blitz, me assegurei que todos estivessem de cinto. Mas ao chegar perto, percebi que havia algo errado, não era simplesmente uma blitz. Olhei não mais que cinco segundos e lá estava o corpo estirado no chão. Aquilo me invadiu por dentro.

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O solitário da noite

Ele se sente um boêmio nato. Aproveita qualquer brecha e sai pela madrugada a vagabundiar pelas ruas escuras da cidade. Mexe com as fêmeas distraídas e faz tentativas frustradas de uma noite de amor. Elas o desprezam. Seus olhos cor de mel, com certo ar carente, não comovem mais as garotas como antes. Para essa nova geração, amor é uma questão de cheiro e ele, de longe, aponta para um aroma indescritível: o de um perdedor.

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Estrela Cadente *

Era como um vício. As estrelas o atraiam, a lua cheia o prendia em um inebriante sorriso que, embora não fosse muitas vezes visto externamente, estava ali representado no brilho dos olhos negros. As lentes de vidro refletiam as luzes da cidade. Apartamentos acesos indicavam que Maringá continuava acordada, mesmo no pico da madrugada. Ele, assim como um bocado de gente, buscava uma forma de fugir da insônia. Algumas janelas piscavam luzes azuis, indicando que a televisão era a melhor companhia na noite que não queria amanhecer. Mas o refúgio dele estava na rua, sentia-se bem naquele ambiente urbano, emparedado por prédios na larga avenida iluminada. A brisa noturna que lhe bagunçava os cabelos fazia-lhe sentir livre. No entanto, alguma coisa o incomodava.

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domingo, 26 de setembro de 2010

Quando eu crescer

Quando eu crescer, quero ter um jardim desses, florido, com um banquinho em baixo de uma árvore para ler meus contos preferidos, sozinho, em paz.

Quando eu crescer, não quero saber da guerra pela TV e ignorar as mortes diárias dos inocentes nas favelas do meu País.

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O desempregado e o trote que saiu pela culatra

Já fazia duas semanas que ele folheava os classificados do jornal. Às vezes circulava algum anúncio, mas nunca conseguia nada na área de comunicação em que era formado.


Desesperançoso, estava quase jogando fora o jornal quando a foto grande e a manchete chamativa fizeram ele voltar a ler a reportagem que falava sobre a onda de falsos sequestros. Depois que terminou de ler, uma ideia de súbito surgiu-lhe à mente. Era algo aparentemente simples, afinal a própria reportagem trazia passo a passo (quase como um guia) o que os bandidos faziam. Era só imitar, não tinha muito segredo. Como estava sem internet para fazer uma pesquisa “mais aprimorada” da primeira vítima, pegou a lista telefônica mesmo, colocou o celular em “modo confidencial” e ligou a cobrar para o número em que o dedo apontou. No nervosismo, nem prestou atenção no nome da pessoa, foi logo ligando. Depois da musiquinha conhecida, a voz irritante de uma adolescente atendeu:

- Quem?

Nesse momento ele estremeceu, não sabia o que dizer. Correu os olhos para a lista telefônica e tomou um susto, nunca tinha visto um nome tão estranho como aquele (Härmmstern Thyrrsten), então pronunciou do jeito que entendeu e foi direto ao assunto.

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Relacionamentos modernos

Hoje a frase de uma amiga me fez pensar na superficialidade das coisas. Houve um tempo que as relações eram mais verdadeiras, mais profundas. A gente gastava mais tempo com as pessoas, cultivando amizades, sim, porque se dedicar a alguém exige tempo e dá trabalho, muito trabalho. Tanto, que normalmente a gente resolve deixar pra depois. Primeiro, estuda, passa no vestibular, se forma, tem uma profissão, trabalha muito, bajula o chefe para ser promovido, daí casa para não ficar sozinho e de repente nascem os filhos, os netos. A gente se aposenta. Então essa é a melhor idade, hora de viajar, aproveitar e curtir a vida. E assim vai... e assim vamos empurrando com a barriga semi-relações.

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