domingo, 24 de outubro de 2010

O Corpo

Ontem, vi um corpo. Ele estava na rua, braço jogado para o lado, como nesses filmes policiais que a gente vê. Mas esse era de verdade, não era ator, nem sangue de mentira. Um lençol, já ensanguentado, cobria seu rosto e parte do que dava. Luzes vermelhas iluminavam os rostos curiosos que se aglomeravam para ver o acidente. Vi as sirenes ao longe e, imaginando ser uma blitz, me assegurei que todos estivessem de cinto. Mas ao chegar perto, percebi que havia algo errado, não era simplesmente uma blitz. Olhei não mais que cinco segundos e lá estava o corpo estirado no chão. Aquilo me invadiu por dentro.

Não pude pensar em mais nada durante o resto do caminho para a casa. Martelava em minha mente a efemeridade da vida e como em um segundo aquele rapaz podia ter deixado de ser filho, pai, namorado, marido, empregado ou patrão para se tornar simplesmente um corpo sem vida. Aquilo era extremamente perturbador.

Antes de dormir, enquanto fazia minha leitura da Bíblia, saltou-me os olhos coincidentemente (para quem acredita em coincidências): “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4:14). Aquilo foi tão forte, que era impossível ignorar. Afinal, não é isso mesmo? Buscamos com tanta intensidade conquistas terrenas, queremos sempre mais dinheiro, status, um corpo invejável, o melhor currículo e deixamos de lado o que realmente importa, o que é eterno. A vida espiritual, uma relação sincera (e não obrigatória-dominical) com Deus tem de ser prioridade. Estamos cuidando tanto do corpo e da mente, e deixando a saúde de nossa alma de lado. Apesar de polêmico, esse é um assunto que merece reflexão. Não podemos simplesmente ignorá-lo, da mesma forma que não é possível ignorar um corpo, sem vida, estirado no chão.

3 comentários:

  1. Adorei esse texto. Aliás, já tive até uma experiência parecida. Uma noite, quando estava a trabalho, me deparei com um corpo na rua também. Era um travesti que tinha levado um tiro na cabeça. Mas é isso ai. Do pó vieste, ao pó retornarás.

    Gostei mesmo desse texto, principalmente da parte que você fala da relação com Deus.

    Abs!

    Murilo

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  2. Tudo parece nos alienar dessa verdade. A nossa hora um dia vai chegar. Preparem-se como puder!
    beijos

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  3. Sarah, te leio sempre, mas quase nunca comento. Esse post mereceu.
    Vivemos uma vida baseada naquilo que vemos, essa é a verdade. Poucas pessoas conseguem sentir o que não se vê...

    Não deixe de escrever! Saudades de uma convivência que a gente nem teve! =/

    =****

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