Entrei na sala de espera e contei mentalmente quantas pessoas havia ali. Perdi a conta com o cheirinho de café fresco, mas calculei entre oito, talvez dez pessoas. Enquanto saboreava o cafezinho doce e quente, pensei como podia haver tanta gente ali se era apenas 8h23, quero dizer, se meu horário era às 8h30, imagino que devem ter outros médicos atendendo além do meu, ou quem sabe metade das pessoas esteja apenas de acompanhante ou então, concluí por fim, eu tomaria muitos cafezinhos durante aquela manhã.
Entrei na sala de espera e contei mentalmente quantas pessoas havia ali. Perdi a conta com o cheirinho de café fresco, mas calculei entre oito, talvez dez pessoas. Enquanto saboreava o cafezinho doce e quente, pensei como podia haver tanta gente ali se era apenas 8h23, quero dizer, se meu horário era às 8h30, imagino que devem ter outros médicos atendendo além do meu, ou quem sabe metade das pessoas esteja apenas de acompanhante ou então, concluí por fim, eu tomaria muitos cafezinhos durante aquela manhã.
Tentei sentar-me o mais próximo possível da única janela da sala; não me leve a mal, mas ninguém vai ao médico a passeio e pela breve análise clínica que fiz de meu colega de banco, ele deveria ir imediatamente para uma UTI e fazer um transplante de pulmão. Cumprimentei-o com um sorriso sem mostrar os dentes e me sentei confortavelmente na cadeira azul com almofadas brancas. Localizei do outro lado da sala as revistas em cima de uma mesinha, ao lado de uma senhora que roncava baixinho. Analisei cuidadosamente minhas opções de leitura a partir das manchetes das capas, tendo como critério também a quantidade de poeira incrustada nelas.
Dentre todas, peguei duas revistas, uma com entrevistas e matérias sobre política, economia e cultura e outra com os últimos casamentos dos famosos (na verdade, pela data da revista, os casamentos já devem ter virado divórcio), promessas infalíveis de perda de peso em duas semanas, dicas sensacionais para minha pele, sem contar a artista de 60 que promete revelar os segredos para manter aquele corpão de mocinha de 20 (além das plásticas, claro). Meus dedos coçam de curiosidade – e provavelmente por causa de ácaros também – para ler a revista de fofocas. Mas como toda jornalista que se preze é necessário pelo menos dar uma folheada na revista de conteúdo, afinal já desapontei bastante a secretária.
- Estado civil?
- Solteira.
- Profissão?
- Jornalista.
- Ah, jornalista? Que legal, você trabalha na TV?
- Não...
- Ah, em que jornal você trabalha então? Eu tenho uma prima que é repórter também.
Nessa hora você tenta explicar da melhor forma possível que você trabalha na área de comunicação organizacional. Elas sempre parecem meio tristes com isso, afinal é muito mais legal contar que conhece “a fulana, que trabalha na TV” do que “a fulana que faz o jornalzinho da empresa tal” (o diminutivo utilizado para falar dos jornais de empresas sempre me afetam, mas já levei isso para a terapia). O fato é que se ela visse “a jornalista” lendo uma revista sobre o casamento da Sandy em vez da revista sobre as eleições (eu sei, você não tem muitas novidades nas salas de espera), minha reputação estaria arruinada. A tática então era folhear com cara de interesse a entrevista com os candidatos a presidência e quando ela se distraísse com as palavras cruzadas, zaz, eu mando ver na matéria sobre perda de peso.
Mas sabe, eu sou mesmo muito iniciante nessa coisa de salas de espera. Se eu tivesse descoberto que ali é um lugar quase mágico, um mundo paralelo, eu não teria me dado tanto trabalho.
As salas de espera são lugares onde se pode ser quem quiser, pelo simples fato de que ninguém está se importando com nada, além da “porta mágica”. Não sei se você já reparou, mas a sala de espera é um lugar reservado para você ficar ali fazendo absolutamente nada. Nada, além de, é claro, esperar. E você espera, espera e espera, quase como um zumbi, pela pessoa de branco que virá pela porta mágica e chamará seu nome, te tirando daquele pseudo purgatório. Lá, a contagem do tempo não é a mesma do mundo aqui de fora. Quinze minutos podem demorar dois dias, por exemplo. O mundo se movimenta lá fora, o sol abre, as nuvens o cobrem, chove, abre o sol novamente, o telefone da secretária toca 16 vezes, ela atende com a mesma entonação e sotaque carregado de sempre: “Consultório médico, boa tarde”.
Tudo é tão surreal que ler sobre o casamento da Sandy me parece fantástico e você começa a pegar gosto pela coisa. Começa até a torcer para demorar só mais um pouquinho para você terminar de ler o resumo da novela que, aliás, terminou ano passado. E quando você já está adaptada, dividindo o mesmo copo com o paciente tuberculoso do lado e o ronco da senhora-zumbi do outro lado já soa como sinfonia, eis que surge o homem de branco na porta mágica, com ar tranquilo, saindo do mundo real e chamando seu nome no meio da reportagem “Como emagrecer 5kg em uma semana comendo de tudo”. Será que ele não podia ter esperado mais uns 10 minutinhos? Agora eu não tenho outra escolha: vou ter de pegar uma gripe e voltar aqui semana que vem. Mas acho que vou falar que sou publicitária da próxima vez.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Sala de espera
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Jornalista, pro mundo, apresenta o Jornal Nacional e só. E sabe que isso sempre acontece comigo? A minha sala de espera tá sempre lotada mesmo que eu chegue no horário da consulta. E SEMPRE, SEM-PRE fico esperando mais de uma hora por lá... E pq as revistas velhas, não é? HAUHAUHAUHAU... Locais peculiares...
ResponderExcluirUm bju, Sah!
Sarah, investe pesado na sua veia de cronista, ô minha filha... Muito, muito boa!
ResponderExcluirBj!
Olá, Sarah
ResponderExcluirEu mal te conheço. Só vi seu blog através do Twitter do Saútil, pois estou trabalhando pra eles.
Gostaria de parabenizá-la pelos textos. Seu blog é bem feito e você é muito boa cronista.
Interessante este, em especial, pois passei quase que exatamente por essa situação hoje. Embora estivesse lendo a Revista Veja, consegui encontrar uma matéria sobre como as "estrelas" posam para fotos. Estava torcendo pra não me chamarem enquanto terminava de ler sobre essa futilidade..rsrsrs
Parabéns, novamente!
Priscila Andrade (pri.cerqueira@yahoo.com.br)