domingo, 1 de agosto de 2010

A mensagem

Era um desses dias indecisos – em que o céu não se decide entre o azul anil ou o esbranquiçado das nuvens leves e que não consigo optar entre nhoque bolonhesa ou macarrão ao molho branco – quando você resolveu reaparecer na minha vida. Enquanto a atendente bate o pé ansiosamente com a caneta na mão esperando meu pedido, o toquezinho insuportável e inconfundível do celular emprestado que uso até o meu sair do conserto anunciava que de duas uma: ou minha operadora mandava uma super e interessante mensagem com propaganda de algum serviço inútil ou alguém, de fato, enviava uma mensagem que merecia minha atenção. A atendente percebendo que dali não sairia uma decisão muito veloz, partiu para outra mesa em busca de um pedido que pudesse anotar. Resolvi então dar uma espiada na telinha pequena e cheia de arranhões do aparelho portátil. Ergui as sobrancelhas e arregalei os olhos. Não poderia ser. Mas eu só conhecia uma pessoa com aquele código DDD, comecei a ler a mensagem e rir foi inevitável.

Como poderia? Como um serzinho pode ter tamanha cara de pau, tamanha astúcia de me escrever aquelas palavras, ignorando totalmente o contexto que há por trás delas? Será mesmo que ele achou que simplesmente ressurgir com uma bela mensagem de texto ao estilo “você sumiu, estou com saudades de você” faria meus batimentos cardíacos se alterarem e eu esquecer todas as outras palavras rudes ditas pessoalmente naquelas tardes de outono? Olha, uma coisa eu sei bem, para algumas pessoas, palavras são apenas junções de letras, mas para mim podem valer mais do que dinheiro ou doer mais do que uma surra. Na verdade, a questão não são as palavras em si, elas por si só são vazias e não valem de nada, mas quando elas fazem sentido, ah, meu caro, aí o negócio pega. E é exatamente por isso que eu tive de reler três vezes antes de acreditar que aquela mensagem era realmente dele.

Certamente, para ele foram apenas algumas letrinhas digitadas em um momento livre, mas para mim foi a prova cabal de como os homens são inocentes ao pensar que com o tempo tudo se resolve e que a mente das mulheres apaga certas coisas. Pois bem, vou lhe dizer uma coisa. As mulheres nunca esquecem. Nunca, gravaram bem isso? E se elas se fazem de esquecidas é por amor, para tornar suportável a convivência delas com os homens que as fizeram sofrer. Mas não se engane, isso virá à tona assim que o amor se transformar em um sentimento não muito agradável. Neste caso, as formas de reação são as mais variadas, a vingança é a mais comum, mas no meu caso, eu optei para a que julgo a mais cruel: a arte de ignorar. Não há nada mais sublime do que isso. Você não o ama, nem o odeia, você simplesmente o ignora, ele não incomoda você e isso é de desesperar qualquer um. Ninguém gosta de ser um fantasma. É o velho “falem bem, falem mal, mas falem de mim”. Pois eu não falo, evito pensar e, é claro, não respondo à mensagens, principalmente desse tipo. Contudo, apesar de apreciar a ironia, confesso que o gostinho da vingança sempre me vêm à cabeça, como se me viesse uma sede de sangue, é difícil explicar. Mas eu compenso isso de outras formas.

Depois de minha risada irônica frente à telinha minúscula do celular e minha satisfação silenciosa de quem sente-se vitoriosa após ganhar uma batalha, me senti completamente decidida. Chamei a garçonete com a voz firme e sem titubear e pedi um nhoque à bolonhesa. “Ah, mas capricha no molho vermelho, por favor.”

3 comentários:

  1. Olha... não dá pra ser a "Anonimaissa" nesse blog... masss... tudo bem. A identificação rola solta demais com seus contos. Penso que minha vida é "simplesmente clichê" demais! hehehe
    Bjoka Sarah...

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  2. A indiferença masculina, gerada pela falta de amadurecimento do gênero, causa um ódio voraz nas mulheres; que com sede de sangue, vingança, e comendo comida italiana (digere mais fácil e rápido) com muuuuuito molho vermelho, demonstram a sua indiferença (falsa, pois se fossem indiferentes nem estrategiariam isso) e destroem os corações dos imaturos homens!!!!!!

    hehehehehehehehe

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  3. Sarinha, virei fã! Já tá nos meus favoritos...

    Bj!

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