Era como um vício. As estrelas o atraiam, a lua cheia o prendia em um inebriante sorriso que, embora não fosse muitas vezes visto externamente, estava ali representado no brilho dos olhos negros. As lentes de vidro refletiam as luzes da cidade. Apartamentos acesos indicavam que Maringá continuava acordada, mesmo no pico da madrugada. Ele, assim como um bocado de gente, buscava uma forma de fugir da insônia. Algumas janelas piscavam luzes azuis, indicando que a televisão era a melhor companhia na noite que não queria amanhecer. Mas o refúgio dele estava na rua, sentia-se bem naquele ambiente urbano, emparedado por prédios na larga avenida iluminada. A brisa noturna que lhe bagunçava os cabelos fazia-lhe sentir livre. No entanto, alguma coisa o incomodava.
Dirigiu até seu lugar favorito que dava uma visão privilegiada da cidade. Lá, totalmente sozinho, se perguntava o porquê daquele aperto no peito. Já fazia pelo menos três dias que não dormia uma noite inteira, só pensando, pensando e pensando. Sua cabeça parecia uma máquina que não parava de rodar um minuto só. Por isso gostava tanto de olhar para o céu, era como se conseguisse esvaziar sua mente na imensidão negra da noite.
Às vezes se desligava do mundo terrestre por longos minutos, só formulando teorias sobre os astros do céu. Desde criança, sempre foi assim. Durante os eclipses, imaginava o sol e a lua em um beijo apaixonado, gostava de inventar nome para as estrelas e sempre sonhou ver uma estrela cadente, só para fazer um pedido. Mas quando pensava no que poderia pedir para a tal estrela apressada sentia tanta ansiedade, mas tanta ansiedade que nunca chegou a uma conclusão (e sempre acreditou intimamente que fosse por isso que nunca chegou a ver uma estrela cadente assim de pertinho).
Então, no meio daquela insônia toda, pensou como seria uma noite perfeita. Fechou os olhos. A primeira certeza que teve é de que a lua estaria presente. Haveria uma garota também. Não qualquer garota, que fique bem claro, mas aquela que despertasse dele os sorrisos mais sinceros, que pudesse também fazê-lo chorar, uma garota que penetrasse a muralha de proteção que ele criou para si e o impulsionasse a fazer algo louco.
Ela, juntamente com a lua, seria o pretexto perfeito para ele fugir. Sim, era isso que ele queria: queria fugir da rotina do presente e do medo do que ainda está por vir; queria deixar para trás sua vida e começar uma nova, queria mais, sentia que tudo o que tinha vivido até então era muito pouco e que ainda havia muito para ser vivido. Queria viajar sem rumo, conhecer estranhos e até passar por apuros (por que não?), só para sentir-se vivo. Sim, era isso que ele mais queria. Neste momento, ele abriu os olhos e sorriu. Então, pela primeira vez, ele viu cruzar no céu uma estrela cadente.
*Conto publicado no e-book Contos Maringaenses, que pode ser baixado gratuitamente aqui
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Estrela Cadente *
domingo, 26 de setembro de 2010
Quando eu crescer
Quando eu crescer, quero ter um jardim desses, florido, com um banquinho em baixo de uma árvore para ler meus contos preferidos, sozinho, em paz.
Quando eu crescer, não quero saber da guerra pela TV e ignorar as mortes diárias dos inocentes nas favelas do meu País.
Não quero deixar para fora da janela um dia de sol como o de hoje. Olha, olha ali como a água brilha com o reflexo do sol. Quando eu crescer, quero ser marinheiro, só para poder sentir o sol, o vento, a chuva, enfrentar as tempestades, sentir a vida que hoje eu vejo por uma parede de vidro.
Quando eu crescer, vou amar alguém. Ela será minha princesa e eu a protegerei de todo o mal. Lhe trarei flores do jardim todos os dias, recitarei um verso dos meus poemas favoritos e afagarei seus cabelos até dormir.
Ah um dia, quando eu crescer...